Entrevista com Doutor Arquiteto Miguel Alves Pereira em 25 de março de 2013.


Dia 25 de março de 2013 tive o privilégio de conversar com o Doutor Arquiteto Miguel Alves Pereira sobre os assuntos referentes ao exercício da profissão de Arquiteto e Urbanista no Brasil. Renomado Internacionalmente, considerado um Arquiteto da Estrutura do Pensamento da Arquitetura Moderna Brasileira, é Comunista. A densidade de sua atuação Política na consolidação da atividade dos Arquitetos no Brasil vem de muito longe: Fundou a Abea - Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura; presidiu o IAB em seu estado natal o Rio Grande do Sul; representou o Brasil na União Internacional dos Arquitetos; foi condecorado em diferentes países; foi aluno de Jürgen Habermas em Berkeley, ... Isso só para falar por cima.

Em 30 de dezembro de 2010 houve a aprovação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU. Foram 52 anos de luta pela aprovação do Conselho, que agora tem liberdade e autonomia para delimitar a Formação Profissional e a atuação do Arquiteto Urbanista que também pode ser Designer, Decorador, Paisagista, Arquiteto de Sistema, Arquiteto do Pensamento, entre outras faces da profissão. Mas, como disse o Dr. Arquiteto Miguel Alves Pereira, “O CAU é Nascituro e não nasceu, está em Gestação”.

            As cinco entidades que representam os Arquitetos estão atuando sem conexão com o CAU, parece que há ruptura. Miguel deixa claro que pensa que O Colégio Brasileiro de Arquitetos, composto tanto pelo IAB, quanto a ABEA, a AsBEA, a FNA e a ABAP deveria estar mais próximo do Conselho neste momento histórico de transição do velho modo de se fazer Arquitetura, para o Novo Modo que os Arquitetos tanto desejam.

            Fiz algumas perguntas ao Doutor Miguel Pereira e divido com vocês suas respostas:

Cris Larsen: O que significa o Profissional Arquiteto?

Miguel Pereira: Rubem Braga, muito amigo dos arquitetos, morava em Copacabana e de repente viu os prédios absorverem seu horizonte de contemplação. Assim desconsolado disse que o “Profissional Arquiteto deve atar o Burro à vontade do Burro até onde não interessa fazer o Projeto.”

(risos)

CL: Como os Arquitetos deveriam se Posicionar diante do CAU e da Sociedade?

MP: Os Arquitetos devem agir Colaborativamente e prestigiar os avanços profissionais. Já o que o CAU deve ser, ainda não sabemos, é nascituro. O IAB tem prestígio Profissional, mas não tem o suporte da Lei.

CL: O que explica o corretor de imóveis ganhar mais que o Arquiteto?

MP: Não se presta atenção no produto, no Imóvel. É a Fetichização do Mercado Imobiliário que permite o corretor ganhar 6% enquanto o Arquiteto, quando muito, ganha 3% e ainda está sujeito a ir para a cadeia no caso de erro. Arquiteto goza e pena... Essa realidade é o Símbolo da Especulação Imobiliária: Ideal do Espaço Habitado mesmo sem Habitação!

CL: A Saúde das pessoas pode melhorar com uma Outra Arquitetura?

MP: Pode. É a Arquitetura Sustentável, o Planejamento das Dimensões não palpáveis que interagem com o Estado de Espírito. O pensar na Ventilação e na Vista, como o Lelé (João Filgueiras Lima) pensou e que faz de forma Exemplar! Eu já propus que ele fosse Nobel da Paz, ele merece!

CL: E o Urbanismo? Como se dará a continuidade dos Processos da Dinâmica Urbano-Regional? Muda, ou deveria mudar?

MP: As Cidades continuarão se adensando, devemos cultivar a Urbanidade. O IAB de Minas Gerais cultiva a Gentileza Urbana, o que gera uma Relação Afetiva com o Espaço Físico e com a Vizinhança. Outro exemplo, deveria existir apenas fiação subterrânea, os Postes são uma gambiarra e deveriam desaparecer. A Cidade de Nova York possui outra cidade abaixo do Solo, com enormes Galerias em que as instalações são organizadas e existe vazão suficiente para as águas Pluviais.

CL: E os Escritórios Públicos de Arquitetura?

MP: Ainda não somos um país de classe média, as cidades estão assim porque o Cliente (os cidadãos) não sabe o que é uma Boa Cidade para se viver, e não saberá usar o Escritório.

CL: Niemeyer disse que Arquitetura é para os Ricos e que os pobres não sabem o que é isso. O que acha dessa afirmação?

MP: Não sei quando ele disse isso e olha que eu estudei a Obra completa dele! (risos) Ele tinha um complexo por ser Comunista e trabalhar para os ricos...
Talvez ele não tenha lido Herbert Marcuse, da Escola de Frankfurt, que afirmou: a Estética é Revolucionária! E digo que ele fez Arquitetura para os pobres a medida em que Embelezou a Paisagem que tantos pobres e miseráveis contemplaram e contemplam...


 Com agenda apertada se despediu, pois iria viajar na manhã seguinte.

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