O processo determina
a realidade de hoje, tão cruel com os mais fracos, é herança que recebemos de
nossos pais, mas talvez tenha se
perpetuado quando o presidente Getúlio Vargas rasgou a Constituição de
1934, escrita por Mario de Andrade[1].
Esta foi conquista da Revolução Constitucionalista de 1932, liderada pelo
próprio Getulio, apoiada pela classe artística e influenciada por Oswald de
Andrade, com o Manifesto Antropofágico. Antes, a paulista Tarsila do Amaral foi
para Paris em 1920, para estudar desenho e pintura, conheceu nessa viagem
Fernand Leger, artista futurista ligado ao Movimento Dada. Ao voltar ao Brasil,
casa-se com Oswald, com ele, Mario, Menotti del Picchio e Anita Malfatti,
articulam a Semana de Arte Moderna em 1922, seu ideal: fazer uma releitura das
culturas exóticas com a Antropofagia (homem que come). Mas misteriosamente em 1937, foi instituído o
Estado Novo até 1945.
Após o período
de Mãos de Ferro, em 1951 assume novamente a Presidência da República, eleito
democraticamente, nessa fase, talvez para se redimir, cria a Petrobrás; Eletro Norte; CSN; Vale
do Rio Doce; BNDES; e CLT (Leis trabalhistas). Nossa sociedade, já se
encontrava subserviente ao Modelo de Modo Vida Norte Americano, que foi
amplamente difundido pelo cinema e pelas rádios, em nosso país. Em 1955 o Brasil elege Juscelino
Kubitschek, com ele vem a política desenvolvimentista, em 1960 inaugura a
capital Brasília, de Lucio Costa. Em 1961 Jânio Quadros é eleito, fica poucos
meses, então o vice-presidente João Goulart
assume.
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Ao olhar para a
história, vemos que foi o presidente que mais pensou no trabalhador brasileiro.
Primeiro instaura o Parlamentarismo; reata as relações do Brasil com a URSS,
contadas pelo governo Dutra; posicionou-se contra a invasão norte americana a
Cuba; institui a ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio); previu
as reformas de Base nas Estruturas: Agrária, bancária, fiscal, entre outras);
faz o Plano trienal de Desenvolvimento Econômico e Social; 13o
salário; previdência para os trabalhadores rurais; revisão das concessões de
jazidas minerais; taxou o óleo lubrificante; deu a Petrobrás o monopólio do
petróleo. Tudo isso até 1o de abril de 1964, data do Golpe Militar.
Em 1968, o então Diretor de Rotas
Aéreas, o brigadeiro Itamar Rocha, abre sindicância sobre a ordem dada pelo
brigadeiro Burnier, para seqüestrar 40 lideres políticos e joga-los ao mar,
dada ao Comandante do Para-Sar[2],
Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho. Este reportou a ordem a Itamar, que se
esforçava para manter a ordem democrática no Brasil, este acionou
o amigo brigadeiro Eduardo Gomes, este aconselhou a sindicância para ser
reportada ao então Ministro da Aeronáutica. “A exoneração, seguida de
uma prisão domiciliar por dois dias, era conseqüência do que ficou sendo
conhecido como "Caso Para-Sar". No dia seguinte, o Correio da Manhã
abordava a crise trazendo mais um dado: uma entrevista da nora do brigadeiro
Itamar, dona Vânia Rocha, revelava que o seu sogro fora punido em função das
sindicâncias que realizara, concluindo que de fato havia um plano de um "grupo
de radicais", visando "inclusive a eliminação de líderes estudantis e
outros que sejam considerados inconvenientes". ”Meu sogro é um homem digno
e honesto e jamais aceitaria a utilização de uma repartição da Força Aérea para
adotar medidas desumanas e bestiais contra o povo"”.[3]
O plano hediondo e
diabólico do brigadeiro João Paulo Burnier, não deu certo, caso tivesse sucesso
haveria mais de 100mil óbitos no Rio de Janeiro, posto que explodiriam uma
bomba no gasômetro do inicio da av. Brasil, o objetivo era acusar a esquerda de
terrorismo, o que justificaria a morte 40 lideranças da oposição (entre elas
Juscelino Kubitschek, Dom Elder Câmara e Jânio Quadros). Burnier dizia ao
capitão Sergio que os profissionais liberais e artistas deveriam ser eliminados,
pois eram todos comunistas!
Após o ocorrido foi perseguido pelos ditadores, assim também seu irmão, o tenente coronel
aviador Edson Rocha, que faleceu em 1980, após ser transferido para São Paulo.
Seu filho Roberto Rocha, também da aeronáutica, que posteriormente foi
seqüestrado e torturado, faleceu em um acidente de um avião da FAB, pilotado
por um aprendiz, em 1983. Sua viúva Vânia Rocha, também faleceu em outro
acidente aéreo da FAB, em 1991. Já o capitão Sergio Ribeiro de Carvalho, foi
transferido para o Recife, e exonerado. O herói, com 4 medalhas, preferiu a
consciência tranqüila a aceitar o perdão por ter evitado o plano criminoso da
Ditadura, invés disso merecia sua quinta medalha[4],
mas precisou da ajuda dos amigos pra sobreviver, nem mesmo o Hospital da Aeronáutica
poode usar, por questão de segurança.
Até quando
continuarão mentindo sobre tudo aquilo que acontece em nosso país, matarão mais
quantos na Guerrilha Urbana em que vivemos, onde professores das escolas
estaduais são submetidos a estresse diariamente no exercício da sua função?
Como educar crianças para exercerem a Razão Comunicativa, para se tornarem
cidadãos plenos, cobradores de seus diretos e exercedores de suas obrigações, se o revolver tirou o lugar da harmonia nas
relações estabelecidas em sala de aula?
Talvez indústria bélica se beneficie com os
conflitos sociais, assim como a indústria farmacêutica se beneficie com o alto
contingente de enfermos, bem como a indústria automobilística se beneficie com
os buracos da cidade de São Paulo e um transporte público de péssima qualidade.
Ah, e os políticos certamente se beneficiam do dia a dia frenético e ignorância
do povo, que não tem tempo de pensar ( nem para saber o que é ) em
política. Quantos mais serão torturados,
pela obrigação de caber no modelo de consumo, com um modo de vida importado,
que ninguém perguntou se queríamos, apenas sobreviventes? Quem é beneficiado
com todo esse Sistema de Dominação Cultural? Os dados dizem que as coisas estão
indo muito mal e que se assim continuarem, será o fim da vida humana no Planeta
Terra[5],
mas a quem isso interessa? Parece até que essa idéia não vem de alguma mente
humana, pois o lógico não seria que protegêssemos ao invés de destruir o nosso
habitat?
[1] Foi inspirada na Constituição alemã de Weimar, 1919.
[2] Grupo de pára-quedistas treinados para salvamento da selva.
[3] VENTURA, Zuenir, 1988.
[4] Ao contar o plano para o Capitão Sergio, o brigadeiro Burnier dizia que queria colocar a quinta medalha em seu peito, parece que ditadores tem boa retórica, dizia que deviam acabar com os profissionais liberais, pois eram todos comunistas. VENTURA, Zuenir, 1988.
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